Cena comum em qualquer grupo de WhatsApp:
“Gente, não sei se é verdade, mas vou compartilhar aqui por que nunca se sabe: estão moendo pombas junto com a cevada na produção de cervejas. Passe para frente!”
Não, calma, mas será que isso é verdade mesmo?
O que já foi chamado de corrente, vírus e hoax – que antes chegavam por e-mail -, hoje ganhou uma cara nova e merece toda a nossa atenção: as FAKE NEWS.
Essas notícias falsas vão desde boatos que circulam na internet até desinformações fabricadas com a intenção de enganar. Algumas são aparentemente inofensivas e fáceis de identificar por parecerem absurdas demais, mas o problema é que alguns casos nos deixam envolvidos emocionalmente e nos fazem replicar o conteúdo sem pensar duas vezes. A partir dessa dúvida, se a história que chegou no WhatsApp da família é real ou não, e da ansiedade de proteger nossos amigos e família, as mentiras se espalham numa velocidade incrível.
Inclusive, o WhatsApp acrescenta uma complicação ainda maior para o problema de fake news no Brasil: o segredo. Diferentemente das plataformas públicas, como Twitter, Facebook e Instagram, onde as postagens podem ser facilmente rastreadas e analisadas por partes independentes, o WhatsApp é um serviço de mensagem privado entre indivíduos. No WhatsApp, os aspectos mais tóxicos das fake news se multiplicam, e é praticamente impossível rastrear a origem da desinformação compartilhada no app.
Foi levantado pelo site “Aos fatos” que a maior fonte de informação de 43% das pessoas vêm de aplicativos de mensagem. Aquele grupão da família, da escolinha das crianças, dos amigos do trabalho é a fonte de quase metade dos usuários. Dois fatos interessantes surgem a partir disso: 50% dessas pessoas dizem não acreditar totalmente no que receberam, mas esses mesmo 50% também não checam o que receberam com frequência.
Em uma pesquisa publicada recentemente, o MIT – Massachusetts Institute of Technology, dos EUA, analisou cerca de 126 mil notícias postadas no Twitter entre 2006 e 2017. Elas foram tuitadas por cerca de 3 milhões de pessoas e retuitadas por pelo menos 4,5 milhões de vezes. “Descobrimos que as notícias falsas são mais inusitadas do que as verdadeiras, o que sugere que as pessoas foram mais propensas a compartilhar informações inusitadas”, dizem Soroush Vosoughi, Deb Roy e Sinan Aral no estudo. A descoberta aponta também para o problema vir mais do compartilhamento das pessoas do que de robôs. “Quando a informação é nova, não é apenas surpreendente, mas também mais valiosa, na medida em que transmite um status social de que [a pessoa] está ‘por dentro’ ou ‘sabendo’ das informações”.
Em terras brasileiras o cenário não muda: segundo levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai), da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 12 milhões de pessoas compartilharam fake news no Brasil só em junho de 2017.
Chegamos então ao primeiro ponto: não tem fonte, desconfie. Mesmo que possamos ter suspeitas sobre o posicionamento da imprensa tradicional, jornais, revistas e sites de grandes empresas são fontes legítimas de informações. Vale ler mais de um para ter um panorama mais completo e menos ideológico do fato. E mesmo que seja uma fofoca muito interessante, questione sempre.
Você conhece o site que compartilhou ou vem de um “tocompartilhando.com.br” da vida? A informação vem de um instituto ou de uma universidade de renome? Tem referências no texto, links para uma pesquisa séria ou é só achismo cheio de adjetivos?
Importantíssimo: jornalismo sério, de qualquer lado, não sai por aí usando termos pejorativos, nem exagerando na dramaticidade da matéria.
Outro detalhe importante é prestar atenção às datas. Uma notícia pode até não ser falsa, mas ela é de 2003, logo talvez ela já não faça mais sentido. Se parecer muito absurda, jogue no google. A chance de ser mentira já desmentida há tempos é grande. Se vier pelo WhatsApp, não dê como verdadeiro logo de cara.
Checagem é a palavra chave nesses casos. Existem sites destinados a desmentir boatos, como o ‘E-farsas‘ e o ‘Boatos.org‘.
Vale destacar que os casos de fake news compartilhados via Whats já causaram muita dor de cabeça e até mesmo a morte por espancamento e linchamento, como aconteceu na Índia, onde se espalhou o boato que existiam sequestradores de crianças em certas regiões e isso causou a morte de 12 pessoas . Esses episódios extremos vem se tornando cada vez mais populares, o que tem feito com que o próprio governo limite o acesso ao app.
Em agosto desse ano, o aplicativo lançou uma atualização para iOS que, além de correções de bugs e otimizações de sistema, traz um novo recurso que tenta evitar o compartilhamento em massa de notícias falsas.
Como isso vai funcionar: o compartilhamento (encaminhar) em massa de links e mensagens será limitado — inicialmente, em iPhones. Dessa maneira, os usuários vão poder encaminhar mensagens para, no máximo, cinco pessoas diferentes ou cinco grupos diferentes.
Vale notar que o botão de encaminhamento rápido (seta) também foi removido na atualização
Ainda não há informações sobre quando o recurso chegará aos smartphones com sistema operacional Android. A saída do WhatsApp para combater as fake news é interessante também por outro motivo: ela também deve limitar a capilaridade de golpes cibernéticos, principalmente o phishing, que é espalhado no mensageiro.
A dica que deixamos é: tenhamos cuidado com a informação que repassamos, pois ao mesmo tempo que a internet nos deu um acesso muito maior às informações, também há conteúdos que valem a pena ser checados.